terça-feira, 1 de maio de 2007

O Índio Bacalau


O índio Bacalau

Bacalau era um velho índio da tribo Paumari. Cego e com deficiência mental, não tinha uma boa aparência e sempre balançando a cabeça de um lado para o outro. Falava com uma voz mansa e com as palavras bem compassadas. Quando cheguei na aldeia, o Bacalau já conhecia o SENHOR JESUS e gastava horas da madrugada orando e cantando louvores ao SENHOR. Durante o dia servia de piada entre os adultos e motivo de risos entre as crianças.
Na minha primeira noite na aldeia, ouvi de madrugada uns gritos feios de animais. Parecia com o miado de onça. Eu dormia com mais um colega em uma casa coberta de palha de palmeira e toda aberta. O medo começou a tomar conta dos meus pensamentos: “Essa onça vai entrar aqui, vai nos comer; não temos como nos proteger”. Esse era o raciocínio de uma mente urbana e que não sabia nada daquela selva. Num momento ouvi as orações e cânticos do Bacalau. Num impulso corri lá para o local onde ele estava orando sozinho. Depois de ele orar por mim, perguntei:
– “Bacalau, a onça pode entrar em casa para comer a gente?” Ele me respondeu com uma outra pergunta: –“Irmão, quem criou todos os bichos da mata: a onça, queixada, surucucu, sucuri....? Não foi Deus?”
-“Sim, foi Deus.”
-“Então irmão, eles só comem a gente se Deus permitir. E tem mais irmão! Se a onça me comer, ela come a minha carne, mas meu espírito está lá na glória com Jesus.”
-“Oh Bacalau, não é que você tem razão.” Alguns dias depois descobri que aquele barulho forte na alvorada do dia não era de onça mas sim de um macaco por nome guariba(uma espécie de bugio).
O Bacalau foi uma pessoa muito usada por Deus para me revelar verdades teológicas profundas. Sim, eu, o missionário vindo de Curitiba, agora tinha como mestre um índio, cego, analfabeto e com retardamento mental.
Um dia enquanto observa o Bacalau Deus me falou: “O Bacalau me ama de todo o entendimento.” Descobri que o Bacalau amava a Deus com todo o entendimento de um deficiente mental. Deus jamais exigiria do Bacalau que o amasse com o entendimento de um grande cientista, mas sim com a mente que ele tinha para amar ao SENHOR. Com esta revelação me questionei: será que amo o SENHOR com todo o meu entendimento? Com a mente que tenho? Com o conhecimento que tenho? Com a instrução que tenho?
Sou grato ao SENHOR por ter colocado o índio Bacalau em minha vida e pelas verdades que aprendi através do relacionamento com ele.

Isto aconteceu na aldeia Paumari no Lago Manissuã – Municipio de Tapauá – AM no segundo semestre de 1989.

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