domingo, 12 de maio de 2013

Contexto de Discipulado na África.


 
Depois de trabalhar por muitos anos na interior do amazonas envolvido diretamente com discipulado de pessoas em comunidades ribeirinhas, estou trabalhando com o discipulado no contexto de África.

Tenho tentado avaliar a eficácia dos programas de discipulado usados em Moçambique. De uma forma geral identifiquei algumas coisas em comum com as comunidades ribeirinhas do Amazonas.

1) Muitas pessoas que receberam a Jesus mas que não tem um fundamento sólido nas Escrituras, tem a  vida cristã apenas voltada para o momento do culto e para obrigações religiosas.

2) Tenho visto pastores que se tornaram "mediadores" entre Deus e suas congregações, com um rebanho totalmente dependente dele e de suas orientações.

3) Por causa dos dois pontos acima temos pessoas religiosas mas longe de desenvolver um relacionamento pessoal com o SENHOR JESUS.

Então o discipulado é a grande tarefa. Mas o como fazer isso? A maneira como se faz conta muito nesta história. Em Moçambique como no Amazonas, as pessoas são de tradição oral, ou seja, mesmo aqueles que sabem ler têm preferência pela oralidade. No geral essas pessoas descobrem os temas e os princípios nas histórias, mas quando tentamos fazer ao contrário ensinando temas não é interessante nem muito efetivo.

Quando olhamos para a Bíblia percebemos que a maior parte dela foi escrita para pessoas de tradição oral. Jesus não chegava para o grupo de discípulos dele e dizia: Muito bem hoje nosso tema será oração ou finanças ou preparem seu coração porque na próxima semana estaremos falando sobre batalha espiritual. Ele usava histórias, experiências do cotidiano, fazia questões e respondia questões. A própria estrutura da Bíblia não está em forma temática. Talvez usar temas funcione bem na cultura ocidental. Mas será que funciona bem no nosso contexto de África?

Manter as Escrituras de uma forma simples mas viva é o grande desafio no discipulado. Muitos discipuladores dão tanta ênfase em um tema que perdem o todo e a beleza da Bíblia. É como alguém que se concentra tanto numa árvore que perde toda a beleza da floresta.

Posso avaliar minha vida e ministério e perceber que muitas vezes no meu ensino eu transferi apenas o tema que eu realmente achava importante e recheado com toda religiosidade que eu acreditava. Hoje tenho experimentado e sugerido dois pontos básicos para o discipulado:

1) ALICERCE FIRME NA SALVAÇAO PELA GRAÇA -  Uso o material de contar historias Bíblicas chamado "Alicerces Firmes" pode ser usado num  intensivo de um final de semana, durante uma semana toda ou um mês, dependendo do tempo que se tem. Ele usa as histórias Bíblicas de forma cronológica com visuais. O alvo é que o público, durante o decorrer das histórias, possa descobrir a impossibilidade de o homem ser salvo por obras humanas e colocar por terra todo alicerce religioso, fundamentando o novo nascimento na misericórdia e graça de Deus. Contei essas histórias Bíblicas numa Igreja Zulu e no final meu intérprete para falou: “Agora eu entendo o começo e o fim”. E ele mesmo concluiu convocando aqueles que tinham entendido para orarem com ele. Ensinei da mesma forma em uma Igreja em Moçambique e a filha do pastor chegou em casa e falou para ele: "Hoje sei porque Jesus veio ao mundo e porque ele teve que  morrer".

2) RELACIONAMENTO PESSOAL COM JESUS E SUA PALAVRA – discipulado não pode se resumir em um programa de estudos, ainda que seja estudos da Bíblia. Não me entendam mal. Eu amo a Bíblia e ela deve ser o fundamento. Mas estudar a Bíblia exaustivamente para adquirir conhecimento e sem o relacionamento com Jesus, sem estar realmente persuadido, envolvido, agradecido, admirado, constrangido pelo seu amor pode nos levar a ter a Bíblia simplesmente como um manual de regras e entrar debaixo de jugo que oprime, entristece e mata. Jesus disse: “Vocês estudam cuidadosamente as Escrituras, porque pensam que nelas vocês têm a vida eterna. E são as Escrituras que testemunham a meu respeito;contudo, vocês não querem vir a mim para terem vida. (João 5:38-40). Pessoas que conheciam as Escrituras na época de JESUS o rejeitaram. Lucas capítulo 4 narra quando Jesus entrou na sinagoga e leu o  texto de Isaías que falava a respeito do ministério Dele. Lucas observa que depois de Jesus ler e entregar o rolo do livro, os olhos de todos os ouvintes estavam fitos Nele. Então ele disse: “Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos”. Queridos, podemos imaginar aquele momento. Ele era a Palavra viva e perfeita. Ele era a Palavra antes dos tempos eternos. Ele havia inspirado Isaias a escrever esta profecia séculos antes. Ele, o verbo de Deus encarnado estava ali naquela sinagoga. Todo judeu piedoso conhecia esta Escritura e aguardava o cumprimento dela. Mas esse foi o resultado ao ouvir a pregação de Jesus: eles o EXPULSARAM da presença deles.

Discipulado é o processo onde discípulo e discipulador descobrem e experimentam o amor extravagante de Deus e agora livre de toda condenação, desfrutando de toda inocência diante de Deus. Juntos eles caminham pelas Escrituras, fundamentados neste amor, descobrindo a verdadeira identidade em Cristo e conhecendo as intenções de Deus para a humanidade.

Mas na prática, como fazer esse tal de discipulado que fomos chamados a fazer? Lembre-se que a intenção é simplificar e não complicar. Então minha sugestão é desenvolver um plano de leitura Bíblica e anotar, se for possível, e no caso dos de tradição oral falar aquilo que descobriu e não desprezar a voz do Santo Espírito. Discípulo e discipulado compartilham Palavra, vida e encorajam um ao outro. Deve ser uma forma onde a Palavra de Deus se torna vida e não apenas letra. Se durante este compartilhar surge um tema que é mais complicado, podemos juntos buscar o entendimento das Escrituras sobre ele. O mais importante é saber que o caminho para a sala do trono está aberto e não depende de hora marcada, liturgia, rituais, local próprio, mediador humano.

Hoje não precisamos inventar a roda. Temos muitos materiais e às vezes só precisamos adaptar um pouco para o contexto. Mas temos as histórias bíblicas disponíveis na língua materna de muitos povos prontos para serem usadas. É só dar uma olhada neste site http://www.globalrecordings.net/

Concluindo, o discipulado não deveria ser o esforço, mas o fluir natural de uma vida que ama Jesus porque descobriu que Ele nos amou primeiro. Por isso quer influenciar outros a experimentar deste amor, respeitando o contexto cultural de cada povo.

Conectado Nele

Paulo

 

 

 

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