domingo, 14 de outubro de 2007

Escolha Sábia

Eu estava com minha irmã Céia na Santa Casa de BH. Ela já estava a 3 semanas internada realizando vários exames, e era a minha vez de dar plantão com ela. Eu estava olhando para ela e chorando, imaginando se a veria ainda com vida na próxima vez que fosse à BH (nós viajaríamos no dia seguinte para Curitiba, no mês de agosto).Durante quase todo esse tempo ela estava desorientada, devido à encefalopatia hepática, decorrida da cirrose. Não falava coisa com coisa, e nós não podíamos nem conversar sobre a decisão que ela havia feito por Jesus antes de ser internada.
Enquanto ela dormia sedada pela morfina, no meio de minhas lágrimas ela abriu os olhos e sorriu para mim. Percebi que ela estava lúcida e cheguei bem perto do seu ouvido e falei:
- Céia, Jesus está preparando um lugar bem bonito para voce.
- Eu creio nisso - ela falou.
- Nesse lugar não tem doença, nem dor, nem tristeza, nem lágrimas e a gente vai se encontrar lá.
- Eu creio nisso - ela falou novamente e continuou no seu sono.
Meu coração se encheu de alegria! Eu terminei o plantão e viajei no dia seguinte com a convicção de que ela estava salva.
Duas semanas depois sela recebeu alta. Não porque ela estava melhor, mas porque não havia mais nada a ser feito por ela. Continuava desorientada na casa de minha outra irmã, porém se alimentava melhor e chegou até a ganhar alguns quilinhos! Dez dias depois ela teve uma hemorragia digestiva e perdeu muito sangue. Um dia depois da internação ela entrou em coma e foi nesse dia que eu cheguei de volta à BH. Não pude mais conversar com ela nos plantões seguintes, pois quatro dias depois ela morreu: dia 07 de setembro às 12:55 hs, um dia depois do meu aniversário. Eu havia pedido ao Senhor para não permitir que ela morresse no dia do meu aniversário e Ele me atendeu.
No dia do sepultamento, reuní forças no Senhor e dei uma palavra antes de irmos para o cemitério.
Em Dt 30:19e20 está escrito: "Os céus e a terra tomo, hoje, por testemunhas contra ti, que te propus a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua descendência, amando o Senhor, teu Deus, dando ouvidos à sua voz e apegando-te a Ele; pois disto depende a tua vida e a tua longevidade; para que habites na terra que o Senhor, sob juramento, prometeu dar a teus pais, Abraão, Isaque e Jacó."
A Céia foi alguém que, ao longo de sua vida, fez muitas escolhas erradas. O fato de morrer prematuramente aos 47 anos (ela completaria 48 em outubro), era conseqüência de algumas dessas escolhas: alcoolismo e tabagismo por mais de vinte anos. Sofreu com a morte do marido, a morte de seus três filhos em menos de dois anos por causa do tráfico de drogas, a prisão da filha caçula por tráfico de drogas e a quebra de relacionamento com a filha mais velha. Mesmo assim, nunca quiz dividir com o Senhor Jesus as dores. Orávamos muito por ela e sempre falávamos sobre Jesus, sem nenhuma resposta positiva de sua parte.
Quando estávamos aguardando o resultado da biópsia da ferida na boca em Vitória, ela estava muito preocupada e me perguntou se eu achava que era câncer. Eu lhe respondi que poderia ser mas o mais importante era que ela cuidasse de seu espírito, visto que do seu corpo até aquele momento ela não havia cuidado.
Fiquei com ela durante todo o tempo em Vitória fazendo exames e depois indo para BH, onde ela ficaria na casa de minha outra irmã (minha mãe não queria vê-la muito doente e muito menos morta).
Foi nessa época em BH que ela fez a melhor escolha de toda sua vida: aceitou a Jesus como seu salvador.
Assim é o nosso Deus: mesmo depois de uma vida de escolhas erradas, escolhas para a morte, Ele respeita nossas escolhas acertadas para vida. Sua misericórdia evita que recebamos aquilo que merecemos e sua graça nos dá aquilo que não merecemos.
Louvo ao Senhor por Ele ter dado à Ceia oportunidade e tempo de fazer sua escolha pela vida. E por não ter levado em conta o tempo de ignorância, mas aceito sua escolha pela vida.
Agradeço ao Senhor também por ter me dado o privilégio de estar ao lado dela desde o início de sua enfermidade e de poder cuidar dela nesse tempo. Louvo também ao Senhor por ter me dado a confirmação de sua salvação naquela nossa última conversa nossa no hospital.
Agradeço também à cada um de voces que orou por mim e por minha família nesse momento tão doído de perda.
Dia 07 de outubro fará um mês que a Céia partiu para estar com o Senhor. Mas sei que, devido à escolha sábia que ela fez, nossa separação será apenas momentânea.
Estejam orando juntamente conosco pela minha mãe, pois a Céia era sua companheira e no momento está tendo sintomas de depressão.
No amor do Pai
Eliete

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